Através do Projeto Microbioma que ocorreu de 2007 a 2016, em duas fases de 5 anos cada, iniciamos o melhor entendimento da nossa microbiota intestinal a qual é composta por aproximadamente 40.000 cepas de bactérias podendo ultrapassar em até 3 x o número de células no corpo humano. Porém nossa microbiota é muito maior que isso, pois compreende também vírus, fungos e protozoários.
Quando falamos em Microbioma, falamos mais do que os tipos de microorganismos, falamos sobre os tipos de genes que os compõe. E na segunda etapa do Projeto Microbioma, foram estudadas a sua composição genética, suas proteínas e seus metabólitos, ou seja os produtos finais dos microorganismos, que são mais importantes do que apenas saber quais são estes microorganismos.
Um terço da microbiota é comum entre as pessoas, e dois terços são únicos de cada indivíduo. Até mesmos os gêmeos univitelinos apresentam microbiota distinta, pois muitos fatores influenciam na sua formação, como por exemplo: padrões dietéticos, fatores ambientais, como estilo de vida, higiene, exposição a drogas e antibióticos, exercícios e localização geográfica, entre outros.
Grandes vantagens que o Projeto Microbioma nos trouxe:
Com funções indispensáveis para o nosso organismo, como a produção de substâncias essenciais para a saúde das nossas células intestinais, na produção de vitaminas, na fermentação de substâncias não digeríveis, regulação do metabolismo do colesterol, e também para a regulação da nossa expressão genética, a qual é diretamente relacionada a nossa saúde.
Parte I
Referências
The Integrative HMP (iHMP) Research Network Consortium. The Integrative Human Microbiome Project. Nature 569, 641–648 (2019). https://doi.org/10.1038/s41586-019-1238-8
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Um desequilíbrio na quantidade e na qualidade das bactérias intestinais caracterizam o que chamamos de Disbiose Intestinal, a qual tem sido associada a distúrbios metabólicos como por exemplo a resistência à insulina, a diabetes tipo 2 e à obesidade.
A Disbiose provoca um afrouxamento das junções celulares, as quais são responsáveis pela integridade da nossa barreira intestinal. Esta alteração provoca o que chamamos de Intestino Hiperpermeável (Leaky Gut), que permite a entrada de proteínas maiores, de partículas de microorganismos, como os famosos lipossacarídeos (componentes da parede celular das bactérias gram negativas), os quais estimulam nosso sistema de defesa, gerando um aumento das citocinas inflamatórias, desencadeando um estado inflamatório crônico de baixo grau, característico das patologias crônicas que compõe a Síndrome Metabólica.
Este aumento da atividade inflamatória pode estimular os macrófagos gerando um desequilíbrio entes os macrófagos tipo 1 (inflamatórios) e os macrófagos tipo 2 (antiinflamatórios), os quais são responsáveis por aumentar processos inflamatórios já existentes no nosso corpo, como por exemplo, nas articulações degeneradas por artrose ou artrite. Além disso, este estado de hiperexcitação do nosso sistema de defesa (imune) pode desencadear uma agressão a proteínas do nosso próprio corpo, caracterizando o início de um processo patológico de autoimunidade, como uma artrite reumatoide ou uma tireoidite de Hashimoto.
Há estudos em ratos que mapearam os macrófagos tipo 1 ativados no intestino, que foram encontrados nas articulações com artropatia, comprovando sua migração, mostrando a associação entre a disbiose intestinal, sua hiperpermeabilidade, a ativação inflamatória e as doenças articulares.
Com isso, para o enfrentamento de patologias crônicas, especialmente a síndrome metabólica, a resistência à insulina, o diabetes tipo 2, a obesidade, as patologias cardiovasculares, as artropatias degenerativas e inflamatórias, as doenças autoimunes, o entendimento do microbioma intestinal, tanto quanto a sua abordagem, são de fundamental importância para alcançarmos o melhor resultado dos tratamentos, buscando alcançar o melhor estilo e qualidade de vida para cada indivíduo.
Parte II
Referências
Ramires LC, Santos GS, Ramires RP, da Fonseca LF, Jeyaraman M, Muthu S, Lana AV, Azzini G, Smith CS, Lana JF. The Association between Gut Microbiota and Osteoarthritis: Does the Disease Begin in the Gut? Int J Mol Sci. 2022 Jan 27;23(3):1494. doi: 10.3390/ijms23031494. PMID: 35163417; PMCID: PMC8835947.